sábado, 24 de agosto de 2013


"O lado sombrio do amanhã." (Continuação)


Jonathan se encontrava pálido,desolado,e não passou desapercebido pelo policial que estava colhendo os depoimentos. Seu nome era Ben. Alto,magro,pinta de assuntos internos,mas nada de novato em seu semblante.
Ele se aproximou de Jonathan,que já se encontrava passando mal. Com muito cuidado começou a se apresentar. Eis então que questionou a Jonathan:
-Senhor,não pude deixar de reparar na forma em como se encontra,era próximo da vítima?
Então,ele,sem forças,levantou o olhar e respondeu pausadamente:
-Amanda é a mulher mais preciosa que já conheci...Mas sinceramente,não somos próximos ainda. (Não como eu gostaria,ele pensou.)
O policial prontamente,desconfiado,prosseguiu:
-O senhor demonstrou algum tipo de envolvimento emocional,eu preciso muito que o senhor seja mais claro em suas declarações,quando for requisitado na delegacia.
Jonathan,que não tinha mais nada o quê dizer,a não ser que estava de saco cheio,respondeu:
-Policial Ben,estou a total disposição para qualquer esclarecimento(soluço,pausa...lágrimas escorrendo novamente). Eu amo-a em segredo,e pra mim está sendo doloroso além do que você possa imaginar. Por favor,poderia me deixar sozinho?
Ben olhou para ele com sentimentos contraditórios,ainda desconfiava de que ele poderia tê-la raptado,mas...Resolveu deixa-lo em paz:
-Senhor Jonathan,se souber de alguma coisa...Qualquer coisa,entre em contato conosco. Aqui está o meu cartão.
Jonathan o pegou,e uma lágrima caiu no cartão em laminação fosca. Agradeceu,e se retirou.
Ligou para empresa,antes...se acalmou. Avisou que não poderia trabalhar,explicando a situação(não de forma integral). Deram-no 4 dias de folga,achando que era alguém de sua família.
Ele logo pensou...-"4 dias...tenho 4 dias para cooperar nessa investigação. Preciso pensar,agir...Preciso ter minha pequena de volta. Droga,ela não é minha! Quem será que a sequestrou? Quem? O que estão fazendo com ela?"
Sentou-se na poltrona de couro,que seu pai havia deixado na casa antes de sair,após a separação. Seu irmão era casado,já não estava mais presente com tanta constância,em sua vida.
Lembrou-se que fez questão de falar para seus amigos sobre seu interesse,por Amanda. Começou então a teia da desconfiança...E quanto mais ele se aprofundava,mais encontrava. Como se olhasse para o abismo,e ele retribuísse o olhar.
-"MALDITOS!" Falou alto,enquanto batia o punho no braço da poltrona. 
Seu jeito puro e deveras poético,de lidar com as coisas da vida,transformou-se em uma ira,sem igual. Um mar vermelho de sangue,se aproximava ainda mais...envolvia-o em ressentimentos,dores...O ódio...Ah,o ódio, como a principal arma para defender sua amada. Mas ele não percebia que se perdera,antes mesmo de começar qualquer busca,qualquer investigação,por conta própria.
Seu equilíbrio Taoista havia abandonado-o,para dar lugar ao lado animal humano...Ao lado da luta por preservação da espécie e território. Sentia-se com os músculos enrijecidos,mais do que o comum.
Tratou de tomar um banho frio,para ver se acalmava-se...O vapor saía de sua pele,esse calor era anormal.
E ele queria ir até o fim...Agora,não tinha mais volta.
Recordou-se de Ray,um caráter duvidoso e oportunista...Nojento,grotesco,asqueroso. Ele declarou em alto e bom tom uma vez,coisas absurdas sobre o que faria com Amanda em 2 horas.
Tinha acabado de tomar banho,e já se sentia suado. Jonathan pegou então a chave de casa,e se dirigiu a torre onde ele morava.
A polícia ainda se encontrava lá,obviamente. Ele disfarçou seu caminhar e foi...Bateu na porta,ninguém atendia. -"Era ele!" pensou.
Arrombou a porta,e encontrou a casa limpa... Desceu,chamou o policial Ben,e relatou o que havia acontecido. Ben procurava não ser brusco,devido ao estado emocionalmente instável que Jonathan mostrava. Mas sentia que ele falava a verdade...
Encobriu então o arrombamento da porta,e chamou seu superior.A investigação partiu dali,de forma mais densa. Nas ruas,uma equipe. No condomínio,outra de prontidão. 
A noite foi se aproximando,e completava 24 horas de desaparecimento...Toda equipe sabia que não podia deixar passar mais tempo. Quanto mais horas,mais as chances de reencontrá-la serão nulas!
A espera era insuportável,pra família principalmente. Os pais,irmãos,as avós,os tios e tias,todos...todos se encontravam paralisados,abatidos.
Jonathan em sua casa,olhava pela janela de vez em quando,em direção ao apartamento de Amanda. Só para reparar a movimentação. Nada...e nada...e mais nada,além da agitação proveniente.
O dia amanheceu,e ele não havia dormido. Sua mente estava como um labirinto...e cada vez mais soturno seu jeito de lidar,se tornava.
Mesmo que Amanda fosse encontrada,ele não seria mais o mesmo. O que estava acontecendo? Não se lembrava,e toda vez que tentava lembrar,sentia dor de cabeça.
Em meio a seus devaneios,pensou: -" Eu devia ter me aproximado,ter sido mais corajoso. Ela estaria comigo agora,protegida,segura. Minha,somente minha!"

Passaram-se então 48 horas,enquanto todos estavam perdendo as esperanças...Amanda apontou na colina onde o prédio foi construído. Desmaiou,assim que chegou.
Roupas ligeiramente rasgadas,sua pele estava suja de terra. Quem a pegou em seus braços,no resgate de si mesma,foi Ben.
Levaram-na então para o Hospital mais próximo,e depois seguiriam os exames de corpo de delito.
Jonathan,assim que teve a notícia,correu para o Hospital... A surpresa maior é que quando a visitou em seu quarto,ela gritava incessantemente.
Foi preciso que alguns enfermeiros viessem conferir o que estava havendo.
Ela dizia a todos que estavam presentes: -" Foi ele,foi ele. Esse filho da puta pervertido. Egocêntrico,psicopata,louco,machista...Foi esse desgraçado!"
Jonathan sentia como uma agulhada em seu cérebro,e caiu no chão antes mesmo que qualquer policial o encurralasse.
Quando acordou,estava em um dos quartos do hospital,onde foi improvisado um interrogatório,enquanto ele recebia cuidados médicos.
Ben o informou que Ray tirou férias há 2 meses,e foi encontrado em outro estado,com a família. Então quando menos esperou,Jonathan soltou uma gargalhada contínua e em sua expressão sarcástica dizia:
-"Amo-a desde que ela se mudou para o condomínio. Eu cresci naquele ambiente,nunca havia visto alguém com tanta luz...alguém que pudesse realmente ser minha. Estar a minha altura. Mas,ela me olhou algumas vezes,alguns cumprimentos...Ok(um sorriso lateral se formou ligeiramente). Por que ela não queria ser minha? O que há de errado nisso?
Ben o olhava aterrorizado e questionou:
-"Você a violentou,seu crápula?"
Outra gargalhada que tomou o hospital,a ponto de Amanda ouvir,foi dada. Ele então respondeu:
"-Não é violentar,quando se ama,é?"

A equipe logo chamou os psiquiatras locais, era nítido o distúrbio em Jonathan, e a polícia desconfiava que ele não havia tocado em se quer um fio de cabelo dela. Era preciosa demais,para ele.
Ao falar sobre isso,após com resistência ele tomar o tranquilizante e ser removido ao sanatório,exclamou:
-"Nada pode me segurar(sorrindo,descompromissadamente),agora,ela teve minha atenção...Mesmo olhando para mim daquela maneira,dizendo aquelas coisas...Ela sabe,ela sabe. Esse laço não se quebrará...Não...Não se quebrará..."

Amanda estava fora de perigo,mas resolveu visita-lo no sanatório. Forte como um baluarte,queria bater de frente com aquilo tudo,para não ter traumas na vida.

Assim que avistou-o,segurou firme na mão do policial Ben. Pensou em desistir,mas foi caminhando e sentou-se atrás dele. Pelo perfume,ele sabia que era ela,e então virou-se dizendo:
-"Meu amor,finalmente você veio para ficar comigo não é? Aqui é tranquilo,seguro,podemos ter nosso próprio canto,começar daqui uma vida nova...Juntos...!
Ela respondeu:
"-Por quê Jonathan,por que eu?
Jonathan passando a mão em seu cabelo,disse,com um suspiro profundo:
-"Porque você,Amanda,está destinada na vida,a caminhar ao lado dos mais afortunados. Nosso encontro,não foi do nada...Me mostraram seu nome,seu nome no fogo..."
-"Quem deu meu nome Jonathan,quem?" (a respiração de Amanda era escassa).
-"A Dama de preto,o véu da noite,o manto sagrado,a morada dos perdidos...Você é minha salvação...É MINHA SALVAÇÃO(começou a gritar),ENTENDA...É O SEU DESTINO!

Amanda saiu de lá o mais rápido que pôde,com os gritos de Jonathan em sua cabeça...
Quando caiu no sono,pelo cansaço,parecia ter um fardo irreparável para lidar.

Jonathan não a deixou simplesmente por estar no sanatório...
Ele sempre fazia suas projeções astrais,invadia os sonhos dela...Queria-a ao seu lado,na insanidade,como já quis um dia na plena sanidade.

"Porque eu quero,e isso será meu. Vontade sobre amor,amor sobre circunstâncias."








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