sábado, 14 de dezembro de 2013

Sono descuidado...


Ele disse para mim em seus lindos olhos profundos,em seus lábios carnudos,seu rosto robusto e seu caminhar tranquilo,que o mundo não era uma boa morada. Nos encontravamos raramente,mas eu não o tirava de minha cabeça.
Houve um dia em que soube que ele sofreu o feitiço de um necromante. Este necromante foi ativo em sua vida,durante algum tempo. Certa vez,ele acordou no meio da noite,e não conseguia mexer seu corpo,nem falar. Segundos que pareciam uma eternidade...
O raciocínio estava comprometido,completamente invadido por forças ocultas. Nada fazia com que isso parasse. Foi então definhando-se,consumindo-se até seu fim.
Mas seu fim era seu recomeço!
Sexta,feira,13 de Dezembro de 2013. O dia estava inquieto,assim como minha mente. Abri meu livro na página 66,em uma fala de Confúcio a Lao-tsé: "Ah,quanta sabedoria neste homem! Não há outro deste lado do céu,ele é como a Fênix entre corvos."
A brisa atravessava a janela,completamente despretenciosa,arrepiando-me e fazendo-me passar as mãos pelos braços,procurando esquentar um pouco,meus sentidos.
Caminhei até a janela,os raios de sol me faziam lembrá-lo. Foi então que o vi passar. Estava com uma calça jeans,com detalhes em preto e branco(não conseguia ver a estampa),uma regata branca e um colete de couro. O cabelo preso,com suas ondas tímidamente contidas. Ele não me conhecia completamente,apenas tinha ouvido falar de meu nome,e de algumas coisas a meu respeito,por ser amigo de alguém da minha família...
Naquele momento pensei em como ele estaria,se havia recuperado-se completamente daquele caos,porque continuava um homem exuberante...Pisava no chão como filho do trovão! Sim,ele estava diferente...
Tive de ir até o carro para buscar uma papelada que precisava trabalhar. Na volta,pude avistá-lo sentado no jardim. Jasmins,rosas,lírios,o cercavam. Além da bela folhagem distribuída em cada canto do local.
Nossos olhares se encontraram novamente,e eu decidi me aproximar. 
Pedi para sentar,recebi um sorriso singelo em resposta,e então fomos conversando.
Ele parecia contido,não por naturalidade,mas por precaução. Começamos a falar sobre família,trabalho,amigos,quando senti que não haviam mais impecílios drásticos.
Um beijo nos trouxe até aqui...e nos transformou completamente.

Meus olhos teimavam em repousar sobre ele até neste momento.
Sua quietude, sua discrição, sua aparente timidez, abriram caminho para seus feitos serem perfeitos. Para minha tristeza.

Ninguém podia ouvir meus gritos,nem minhas preces,nem presenciar minha luta. 
Minhas unhas ficaram cravadas naquele jardim, a terra se misturava com o sangue, minhas roupas,rasgadas faziam parte das rosas vermelhas,próximas onde aquela cena ocorria. 
A agonia era tamanha que perdia a respiração, pouco a pouco... Como se desistisse de tentar livrar-me daquilo tudo.
Então ele me olhou, cercando meu rosto com suas mãos e disse:
-Agora você saberá todo dia,o que é temer dormir. Estarei com você, sempre. Obrigado por dividir comigo esse fardo.

Acordei-me de súbito... Estava nua,em minha cama. Olhei para o espelho e o vi,sorrindo para mim, em plena manhã.

Nunca desejei tanto que um dia fosse longo...
Mas era em vão...
Não sabia que um olhar poderia ser uma sentença... 

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